10 de janeiro de 2017

Desnuda-se.

Entra no quarto deixa apenas a carne exposta, no entanto, não se desfaz das peças da sua arrogância. Tudo é sobre você, que se apodera friamente diante de uma nudez de alma. Tudo é sobre sua vaidade orgulhosamente colocada que sustenta sua autoestima alimentada pela nudez de uma alma, desconhecida, que se expõe aos prantos. 
A sede embebeda esse corpo de ódio pela avidez por sua alma vestida todo o tempo pela sua prepotência que utiliza constantemente para alimentar seu prazer. 

Vai embora deixando resquícios desse corpo, que se exibe com orgulho violento.

12 de dezembro de 2012

Não sei o que dizer.

Não quero encher adjetivos, não existe nenhum que seja digno de descrever as coisas mais simples e incríveis da vida. Talvez o silêncio seja ideal.
E hoje foi um desses dias que acompanhamos calados, sem saber porque as coisas que talvez não conseguia crer, são explicadas como um filme com início, meio e fim. Um daqueles filmes que você termina de assistir, sem conseguir explicar direito o que aconteceu, apesar de ter entendido.
Muito tempo é gasto planejando como queremos o futuro nos seus mínimos detalhes, e isso até um limite é saudável e tem força para se transformar em realidade. Por outro, eu mesma esqueci que todo esse tempo não vivia o agora. Uma frase muito clichê, mas que quando lembrada sabemos que não somos nada, e que talvez nem amanhã estaremos aqui para prestigiar esses mesmos momentos simples.
Esforço para conseguir passar no vestibular, esforço para terminar a faculdade, á custo de trabalhar para um empresa capitalista onde a mais valia é o que importa. Citei capitalismo, mas talvez socialismo tenha a mesma essência de exploração mascarada, ou talvez pior. Não sei, porque nunca presenciei de perto. Faz parte da vida, do mesmo jeito que faz parte esquecer que talvez não acordaremos amanhã. O sentido da vida eu não sei, e acho que a maioria morre sem descobrir. É como se todo esforço fosse jogado fora. Mas talvez, essas pessoas tivessem usado as palavras certas que seriam essenciais para carregar na alma de quem as ouvisse, antes de isso acontecer. E todo seu esforço por mais breves que foram os segundos, não foram jogados fora. Não voltam, mas ficarão gravados como uma pedacinho de saudade aqui e ali, que duram a vida toda como uma lição para você mesmo. 


Desaparecida desde agosto.

Por onde andava eu? Não sei, durante todo esse tempo eu tentei encontrar o caminho por onde gostaria de traçar. Encontrei o caminho, mas ainda não encontrei o lugar. 
Não tive muito tempo para escrever, na verdade mesmo, eu até tive. Motivos para escrever também tive muitos, não que tenha que haver um motivo para alguém escrever. Mas eu por exemplo, sempre preciso desabafar de alguma forma, no caso uma delas é a escrita. Por um lado, também tive receio de escrever coisas muito minhas. Agora tanto faz, não me importo mais. Afinal eu escrevo em primeiro lugar para mim, e para quem gosta de ler meus textos.
Então daqui pra frente, tudo será muito meu, à gosto.

23 de agosto de 2012

Jardim de Outono

Sentei no banco de madeira do jardim da sua casa. Jardim que você plantou e cuidou. Chovia muito naquele verão, a casa esteve inundada por alguns dias por uma água de gosto salgado. Todos estavam um pouco inundados. Catástrofes naturais não costumam nos pegar prevenidos. E mesmo que estejamos, nunca estamos o suficiente. 
Quando chegou o outono, as folhas secaram, estavam todas espalhadas pelo chão como numa casa abandonada. Não sabia onde você estava, não me avisou quando voltava. Foi embora pela manhã. Não deu tempo de dizer adeus. Se passaram meses, um ano. Como que por uma afinidade, percebi que estava como a casa. Mas você estava ali. As células desprendidas estavam espalhadas, no ar, na terra, comigo, com as folhas, estava entrando na boca do passarinho agora, e logo estaria em um lugar distante. Estavam em qualquer lugar. Estava completando o ciclo da natureza. 

5 de maio de 2012

Informalidade de um sonho.

Por enquanto apenas sonho. Ainda não adquiri a maturidade perfeita para me virar em qualquer canto do mundo. Na verdade, não sei se realmente existe uma certa idade em que poderia me tornar madura. De acordo com meu ponto de vista (indiscutível), maturidade só se adquire quando alguma coisa dá errada e você passa a tomar cuidado para tentar fazer certo da próxima vez. Mas para isso, você deve errar primeiro, ou aprender com os erros dos outros. 
Pena que a minha mãe não pensa o mesmo. Esse é um dos pontos na qual eu e ela discordamos... A sorte é que não tenho pressa, e quando a hora chegar, o gostinho da vitória será bem mais doce. E sim mãe, eu a entendo. 
Quanto a aprender com os erros dos outros a única história que me serve de experiência, além de algumas que eu mesma já vivenciei (e achei o máximo), são as de Heloisa Schürmann e suas tempestades enquanto dava a volta ao mundo com a sua família dentro de um veleiro chamado Aysso. Que significa formoso, em tupi guarani. (Se isso vale como experiência). Desde então tomei gosto pela coisa, quando ganhei o livro que ela mesma escreveu quando eu deveria ter uns 10 anos. 
Sei lá, enquanto fico sentada tenho a impressão de que estou perdendo um punhado de coisas boas que acontecem nos quatro cantos do mundo. 
Poderia estar escrevendo sobre um monte de coisas que todo estudante pré-vestibulando deveria estar careca de saber. Quase sempre termino o dia sem ter feito a metade das coisas que deveria ter feito e mais uma vez não me conformo que nem sempre as coisas saem perfeitas. 
E é claro, talvez há alguns agora que devem estar me julgando pelo uso de gírias, e por algo tão pessoal e informal (?) Perfeição é algo que eu mesma gosto de me cobrar. E cobro muito. Mas cada momento, tem o sua essência. Tudo em uma dose certa. 
Enfim, pelejo. Enquanto a "maturidade" não se manifesta, ou ela ainda não tenha encontrado uma boa hora para chegar, faço as "malas" aos pouquinhos para que o mundo não me pegue desprevenida.




17 de março de 2012

Vamos embora outra vez.

Vamos embora, que o pior já passou
Vamos embora, eu não sei falar a língua desse povo, eu não sei construir um barco para fugir
Mas vamos embora, que eu tenho pressa e você sabe
Vamos embora, que talvez eu saiba controlar as tempestades
Porque você sabe, já houve tempestade pior e só me restou...
Vamos embora, que talvez não dê tempo de chegar a tempo
Vamos embora, vamos pegar uma carona e construir um veleiro
Mas isso deixa pra depois...
Vamos embora, se tudo der errado, não se esqueça que vamos consertar
E tentar mais uma vez, até que a morte me leve embora
Vamos embora, se você não vai, eu vou.

18 de dezembro de 2011

Vasos Quebrados.



Havia muitas pessoas ao seu redor, falavam demasiadamente sobre muitas coisas. Mas não entendia nada. Estava perdida no seu próprio mundo, de faz de conta, talvez. Tentava consertar vasos quebrados, vasos que ela guardou com o passar do tempo e nunca soube consertar. Ela sabia o que fazer, e por algum motivo nunca o fazia. Não sabia dar novas cores aos vasos, quem diria consertá-los. Tinha a sensação de ser um fragmento pré-histórico, um pedaço de um corpo vazio e distante, deixado em algum lugar do tempo. Ainda estava viva. Sim, ela respirava, ainda respirava. Mas era apenas um pedaço de um corpo mutilado, não sei se vivo ou morto. 

(Imagem de Kurt Halsey Frederiksen)

6 de dezembro de 2011

Pequeno Veleiro.



Estava velejando em um barquinho todo esse tempo tentando segurar as rédeas. Tentando resistir ao impulso de olhar o caminho deixado que era forte como as ondas. 
Alguns que partiram com ela, desistiram de conhecer o mundo e se jogaram em alto-mar. Tentava fechar os olhos para não ver, já estava desabando em lágrimas. Que decepção! Seus olhos ficaram embaçados como vidro enevoado, perdeu a direção do barco por algum tempo, velejou por linhas tortas, colocou a vida de quem amava e restava em risco, fez com que outros desistissem e também pulassem para o mar. Quase fez com que ela, por um instante, desistisse do mundo e largasse o barquinho ali mesmo, perdido na devassidão do oceano até que pudesse encontrar o caminho certo. Mas não desistiu. Tentou controlar as lágrimas, assim como tentou controlar o barquinho no meio de uma tempestade no fim da tarde. 
Que se dane o amor.

6 de novembro de 2011

Poliana.



Poliana se engasgava com lágrimas com a intenção de evitar que elas extrapolassem e chamassem a atenção de curiosos. Sangrava por dentro e quem sente dor não costuma rir. Mas ela ria, e ria alto. Ria da sua própria dor, ria na cara dela.
Não poderia deixar tantas portas se fecharem para sempre na sua frente. Então engolia o passado, o choro salgado e descontrolado, engolia sangue e engolia a chave que havia usado para trancar a sua caixa de recordações. Ainda não foi feita a digestão. Enquanto isso, atravessava portas e trilhava caminhos. Eram muitos. Uma imensidão. Ás vezes se perdia, remetia passos para voltar, mas tornava a seguir adiante outra vez.
Enquanto caminhava por estradas esburacadas, por vezes alguém lhe dizia que o caminho era longo demais, e lhe aconselhava a voltar. Não importa o quão longe seja, a única coisa que desejava era chegar ao seu tão sonhado destino, por mais que seus passos estivessem já trôpegos, por mais que seus pés estivessem machucados. 
Poliana sempre se perdia. Perdia a si mesmo. Os caminhos volta e meia imitavam um labirinto, mas Poliana tentava encontrar o caminho certo, tentava encontrar a si mesma.

13 de outubro de 2011

Árvore testemunha.



Estava andando pela estrada quando olhei para as colinas, e me lembrei de quando ainda éramos um do outro... me lembrei de quando caminhávamos até lá, e ficávamos esperando o sol tímido aparecer. Mas não pense que chegar ao topo da colina foi uma tarefa fácil. Não foi. Mas aquilo era o cansaço mais perfeito que eu poderia sentir. Deixemos de lembranças... elas não vão fazer com que tudo volte a ser como era antes.
Não quis dar o trabalho de subir as colinas, o cansaço não iria ser perfeito. Você não estava mais comigo. E o amanhecer não teria as mesmas cores. Venho aqui, estou só, nada é a mesma coisa.
Me lembrei da árvore, a árvore que continha os nossos nomes gravados. Aquela árvore foi testemunha do nosso amor. Como sou atrevido! Me arrisco a derrubar algumas ou uma porção de lágrimas pela grama. Oh! Me desculpe dona grama! Essas coisas do coração eu não consigo controlar!
Mas vejamos o que interessa, o que sacie a minha curiosidade: a árvore. Eu estive procurando a árvore testemunha quando me ocorreu uma ideia: E se a árvore não mais existisse? Pois como sabes, as árvores também são vítimas do homem! Ela poderia ter sido derrubada, justo ela que foi nossa sombra, justo ela que continha meu nome junto ao seu. Lá está ela! Está viva! A árvore testemunha, um pedacinho do nosso amor, escondida entre as suas amigas, escondida entre as colinas. 
...
Volto para minha estrada... cambaleando, pois minha visão está embaçada, e estou aborrecendo a dona grama com as minhas lágrimas descontroladas. Espero que ao menos ela me entenda e me perdoe...
Estou cansado, e esse cansaço de agora é como uma facada nas costas. 
Queria que isso fosse um pesadelo, e queria ser acordado por você deste sonho ruim.


(Imagem de Kurt Halsey Frederiksen)